Atualizada em 30/05/2025 09:55 4y4a2n
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), negou nesta sexta-feira (30) ao STF (Supremo Tribunal Federal) ter conhecimento de qualquer articulação golpista durante o fim do governo Jair Bolsonaro (PL).
Durante o depoimento como testemunha no caso da trama golpista de 2022, o ex-ministro de Infraestrutura cotado para disputar a eleição presidencial no ano que vem exaltou o ex-presidente e disse que a preocupação dele no período era “que a coisa desandasse”.
“O único comentário [de Bolsonaro] era que lamentava. Foi um período de situações difíceis, crises graves, Brumadinho, Covid, crise hídrica, guerra da Ucrânia e todas elas da melhor forma possível, terminamos com superávit. A preocupação era que a coisa desandasse, uma preocupação com o futuro do país”, disse o governador paulista.
Em uma participação curta na sessão do Supremo, de menos de 10 minutos, Tarcísio disse ter se encontrado com Bolsonaro nos dias 15 e 19 de novembro e 10, 14 e 15 de dezembro de 2022.
“Falamos também da montagem do secretariado aqui em São Paulo. E a gente sempre conversava sobre isso basicamente. O presidente sempre esteve comigo no sentido de orientar, preocupado que eu acertasse também, preocupado também em transmitir a experiência dele”, afirmou.
Apenas o advogado Celso Vilardi, da defesa de Bolsonaro, fez perguntas ao governador. As defesas dos outros réus, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e o ministro Alexandre de Moraes optaram por não fazer questões.
A estratégia de exaltar o governo Bolsonaro durante audiência no Supremo foi usada também pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil. Indicado como testemunha de Anderson Torres, o político disse que foi orientado pelo ex-presidente para fazer a transição de governo.
“A transição nos decepcionou pela falta de interesse em informações sobre o país. Mas foi tudo dentro da normalidade, o presidente [Bolsonaro] em momento nenhum quis obstaculizar a transição”, disse Ciro.
Tarcísio foi ministro da Infraestrutura de janeiro de 2019 a março de 2022. Ele deixou o cargo para concorrer ao governo de São Paulo, sob a benção de Bolsonaro. Foi um dos integrantes do primeiro escalão mais aclamados pelo ex-presidente, com quem mantinha relação próxima.
O governador bolsonarista tem repetido a aliados que nunca ouviu o ex-presidente falar em golpe, enquanto distorce e omite fatos ocorridos no período e estava ao lado de Bolsonaro em alguns dos momentos mais agudos de ataques antidemocráticos às instituições.
Ao defender Bolsonaro diante das investigações da Polícia Federal, Tarcísio já disse que “o presidente respeitou o resultado da eleição”, o que nunca ocorreu, e que a posse de Lula “aconteceu em plena normalidade e respeito à democracia”, o que também é outra distorção diante dos fatos.
O ex-ministro foi ao menos cinco vezes ao Palácio do Alvorada no fim de 2022, após Bolsonaro perder a eleição para Lula (PT), segundo os registros da portaria da residência oficial da Presidência da República.
O depoimento do governador era um dos mais esperados. Mesmo fora do governo nos últimos meses de 2022, Tarcísio esteve ao lado de Bolsonaro em alguns dos momentos mais agudos de ataques antidemocráticos às instituições.
Tarcísio já afirmou não ter identificado intenção golpista nos ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas, manteve-se em silêncio ao lado do aliado durante parte dessas manifestações e minimizou agressões verbais do ex-presidente ao STF. Por outro lado, o governador tenta se equilibrar entre uma relação cordial com ministros do tribunal e a base bolsonarista.
Uma das expectativas geradas antes do depoimento era sobre como seria a interação de Moraes com Tarcísio. Os dois têm boa relação. O ministro do Supremo, porém, tem sido duro nos depoimentos com testemunhas que distorcem fatos narrados na denúncia ou que emitem opiniões para defender aliados.
O perfil de Moraes ficou evidente com a insinuação de que o general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, mentia em juízo e chegou ao ápice quando Moraes ameaçou prender o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo por desacato.
Na Presidência, Bolsonaro acumulou uma série de declarações golpistas às claras, provocou crises entre os Poderes, colocou em xeque a realização das eleições de 2022, ameaçou não cumprir decisões do STF e estimulou com mentiras e ilações uma campanha para desacreditar o sistema eleitoral do país.
Após a derrota para Lula, incentivou a criação e a manutenção dos acampamentos golpistas que se alastraram pelo país e deram origem aos ataques do 8 de Janeiro.
Nesse mesmo período, adotou conduta que contribuiu para manter seus apoiadores esperançosos de que permaneceria no poder e, como ele mesmo itiu publicamente, reuniu-se com militares e assessores próximos para discutir formas de intervir no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e anular as eleições.
A defesa de Bolsonaro nega a participação do ex-presidente em crimes e argumenta, entre críticas à denúncia da PGR, que não há provas de ligação entre a suposta conspiração iniciada no Palácio do Planalto, em junho de 2021, e os atos de vandalismo de 8 de janeiro de 2023.
[Folha Uol]